SOBRE O REVEILLON EM TORRES: Festa, praias lotadas e alguns problemas antigos

6 de janeiro de 2017

Praia Grande lotada no começo do ano (Foto de Juarez Espí­ndola)

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Guile Rocha

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E lá se foi mais um Réveillon em Torres. Mais uma vez, vimos a cidade lotada por centenas de milhares de festivos turistas e veranistas, vindos de tudo que é lugar e de várias classes sociais. O pessoal quer fugir do calor, e se a praia é o refúgio natural, Torres ainda tem as belezas naturais como ‘plus’. Até o governador do RS, José Ivo Sartori, e o técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Tite, aproveitaram a data para curtir as nossas praias. Dezenas de prédios e casas que permanecem fechados, quase fantasmas durante boa parte do ano, são utilizados a todo o vapor. Um bom exemplo foi a região das Quatro Praças, zona nobre de edifí­cios que cruza a Av. Silva Jardim, que ficou belamente iluminada na noite. No limiar do dia 31 de dezembro na beira-mar da Praia Grande – durante o pico da agitação – houve show (curtinho, cerca de 40 minutos) com a banda de reggae Chimarruts, chamando para o ano novo, seguido pelo tradicional espetáculo de fogos de artifí­cio (que este ano acabou sendo mais modesto que o atual). E milhares e mais milhares de pessoas festejavam, cada uma a sua maneira, mais um réveillon que passava.

Dentro do mesmo panorama, há aqueles moradores que estão aproveitando a temporada para trabalhar bastante, ‘fazendo acontecer’ aquela tão esperada grana extra que vêm do veraneio: restaurantes, lojas, hotéis e serviços em geral tem um incremento significativo em seu movimento – e consequentemente contratam pessoal para dar conta da demanda. Todo o comércio se movimenta em outro ritmo, e se há alguns anos atrás o fluxo concentrava-se apenas nas proximidades da beira-mar, hoje espalha-se por quase toda a região central de Torres. E em meio a todo esse rebuliço, há ainda o pessoal que tenta viver no verão uma vida parecida com a que há na baixa temporada –  mas isso torna-se uma missão quase impossí­vel.  

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Trânsito  

 Em cada novo réveillon que passa, vemos alguns prognósticos se repetirem: a superlotação de carros congestiona o trânsito e cada um da seu jeitinho de dirigir equivocadamente e contornar os obstáculos no trânsito… mas não sejamos tão pessimistas, pois se vê gentileza em meio ao trânsito caótico também: motoristas dando passagem para pedestres (mesmo quando não há faixa de segurança) ou deixando que os carros mais apressadinhos passem.

Nas redes sociais, voltaram as reclamaçíµes de pessoas questionando mudanças viárias efetuadas principalmente em 2014 pelo governo Ní­lvia Pereira – que instituiu rótulas,mudanças de sentido de vias e que teriam deixado o trânsito torrense mais lento, afogando locais como a rótula central da Av. Barão do Rio Branco, além de trechos da Av. Benjamim Constant e a rua Joaquim Porto. Mas quem conhece bem a cidade já sabe (há muitos anos): no perí­odo de Réveillon, é época de usar o carro só pra emergências, priorizando a bicicleta ou as caminhadas.

Há ainda muitas pessoas não se envergonham em estacionar irregularmente seus veí­culos – principalmente próximo a orla, buscando ficar mais perto da praia. A polí­cia fez o que pode para barrar estes crimes de trânsito – nas proximidades da orla da Praia Grande (local de maior movimento de praia) foram guinchados alguns carros estacionados em canteiros públicos (ou até mesmo no meio de algumas ruas mais largas). Mas o volume é intenso demais, e a fiscalização teve dificuldade em dar conta destas infraçíµes.

   

 Trânsito caótico no dia 02 de janeiro na Av. Barão do Rio Branco (FOTO de Juliana Mengue)

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Acampamentos na Beira-Mar

 

Uma das cenas que provocou indignação nas redes sociais foi a ocupação de espaços junto a beira-mar por pessoas acampadas – devidamente registrada por alguns fotógrafos do Facebook. "Realmente surpreende que, exatamente no momento em que a cidade tem seu ápice de ocupação, pessoas consigam instalar suas barracas na beira da praia e passar a noite lá sem que ninguém tome providências", disse um internauta. Há (ou haviam) placas em Torres, há tempos instaladas pela prefeitura, que indicavam ser proibido o acampamento na beira da praia.

Mas após rápida pesquisa percebe-se que as regras não são claras sobre o assunto – a princí­pio as praias são de responsabilidade da união, e os casos variam conforme o municí­pio. Conforme informou para A FOLHA a diretoria de gerência de fiscalização da BM em Torres, "cabe a prefeitura fiscalizar de acordo com as normas de postura do municí­pio, e se for o caso solicitar apoio da BM para realizar a ação em conjunto". O fato é que muitos moradores de Torres demonstraram sua insatisfação com a ocupação de área turí­stica nobre por pessoas que usufruem desta benesse sem pagar por isso – enquanto muito gastam suas suadas economias do ano para conseguir algumas diárias numa casa/pousada/hotel de Torres. í‰ natural esse sentimento. E não foi a toa que, no domingo (01) funcionários da prefeitura (acompanhados da BM) fizeram a retirada de algumas pessoas instaladas em barracas na Praia do Meio.

Em Imbé, por exemplo, a Guarda Municipal local noticiou PUBLICAMENTE a retirada de barracas que estavam irregularmente instaladas (as margens do Rio Tramandaí­). Por lá, a prefeitura instruiu os moradores a colaborarem, denunciando caso haja novas barracas instaladas.

 

Acampamento na praça Oscar de Lima Martins, em plena Prainha (FOTO: Juarez Martinato)

 

 

Lixo e mau cheiro

 

O Réveillon é siní´nimo de areias lotadas em Torres, mas também de muito lixo deixado para trás: copos, garrafas, fraldas sujas, embalagens de plástico e papelão, bitucas de cigarro, garrafas quebradas, restos de comida são apenas alguns dos exemplos. Infelizmente, falta educação para muita gente. O problema do lixo emporcalhando as praias, vias públicas e até as áreas de proteção ambiental não é apenas relativo a alta temporada em Torres, mas naturalmente assume proporçíµes bem maiores neste perí­odo – em que a população aumenta até 10 vezes além do normal: o volume de lixo é imenso, e há custo elevado de logí­stica para coletar, transportar e destinar adequadamente estes resí­duos (que num cenário ideal poderiam ser reduzidos, reciclados e reaproveitados).

Consequentemente, no perí­odo do Ano Novo (e no veraneio em geral) há um incremento nas açíµes do pessoal que trabalha com a gestão de resí­duos – são mais frequentes as açíµes da empresa prestadora de serviço de coleta de lixo (a Urban, em Torres), bem como o trabalho da coleta seletiva, dos garis. Até mesmo os catadores multiplicam-se. Mas a população, o comércio e os turistas também devem sempre fazer sua parte com açíµes simples (mas que fazem toda a diferença): separar o lixo seco do lixo orgânico, adotar uma lixeira em frente a seu estabelecimento,/residência, conhecer os roteiro da coleta seletiva. Os comerciantes também devem zelar pelo patrimí´nio público, garantindo limpeza de seus locais de trabalho.

Neste contexto, outra reclamação que voltou a ocorrer nas redes sociais foi em relação a falta de recipientes de limpeza de tamanho adequado para a demanda de lixo junto ao calçadão da Praia Grande. As pequenas lixeiras em formato de balão – muitas delas já quase sucateadas – acabaram literalmente transbordando com tanto lixo. E junto com lixo, vem o mau cheiro. Em Torres, alguns lugares como a histórica rua Júlio de Castilhos ficaram desagradavelmente fétidos durante estes dias de enorme movimento, com visí­veis poças formadas junto ao meio fio. Mau cheiro este que existe por vários motivos: desde as dificuldades no recolhimento de lixo aos canos de esgoto estourados ou entupidos, passando pelas várias pancadas de chuva torrencial que ocorreram nesta época. Mas tudo isso deixa claro algo em Torres: a dificuldade de atender a demanda de uma população flutuante 10 x acima do normal na cidade.

Mas a boa notí­cia para a área é que a nova gestão da prefeitura de Torres – preocupada coma questão da limpeza – já instituiu o chamado choque de limpeza durante o veraneio. Este serviço que consiste "na execução da capina, recolhimento de vegetação, entulhos em geral e ainda a pintura do meio-fio dos pontos mais visitados pelos turistas, assim como as vias de acesso a estes locais", além da limpeza da beira de praia e de valos/ esgoto pluvial.

 

 

FOTO: Pequenas lixeiras da Praia Grande não deram conta de tanto volume de resí­duos (foto: Alexis Sanson)

 

 

Carros na Itapeva

 

Outra questão que gerou polêmica nestes dias – numa batalha entre pontos de vista ambientais e turí­sticos – foi a continuidade do uso da Praia de Fora (ou praia de Itapeva) por carros durante estes dias de grande agitação. No final de dezembro de 2016,   a Justiça havia restringido a circulação de veí­culos na praia da Itapeva. Uma ação civil pública (que decorre de uma licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental – Fepam), restringia a entrada na faixa de areia apenas para veí­culos oficiais de fiscalização ou que tivessem autorização prévia, e determinava que a Prefeitura de Torres fizesse o controle racional de circulação de veí­culos no local. Uma placa – fixada na entrada da praia – deixa claro que apenas o acesso operacional é permitido na área. Apesar disto, vários carros foram flagrados utilizando-se da orla da Praia de Fora, inclusive gerando concentração de lixo na areia (conforme registro fotográfico).

O fechamento da praia tem como pano de fundo, principalmente, a proteção do meio ambienta da área – que é zona de amortecimento do Parque Itapeva, sendo lar de espécies nativas e aves migratórias que sofrem com o uso desregrado da praia. Diversas entidades de proteção ambiental   – como a ONG Onda Verde, Cepento, COMMAM e Associação dos Surfistas de Torres – se juntam a gestão do Parque Estadual de Itapeva (PEVA) buscando barrar o excesso de veí­culos que utiliza o local de forma irresponsável, prejudicando a fauna e flora.

Por outro lado, o local já é tradicionalmente utilizado com finalidade turí­stica por torrenses e veranistas, que gostam de poder estacionar seus carros e utilizar-se da Praia de Fora para seu lazer a beira-mar. Inclusive o prefeito de Torres, Carlos Souza, manifesta-se contra o fechamento da Praia de Itapeva para veí­culos, alegando que "As outras praias de Torres não absorvem o fluxo de pessoas que vai na Itapeva, ainda mais nessa época que a cidade chega a receber 300 mil pessoas em um final de semana. Conforme o prefeito, adecisão judicial deve ser cumprida, mas continuarei lutando pela circulação de veí­culos no local.

 

Pra não dizer que não falei das flores

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Mas nem tudo são problemas na mais bela praia gaúcha. í‰ claro que aqueles que, como o pessoal de A FOLHA, vivem na cidade o ano inteiro, conseguem achar muito ‘cabelo em ovo’, ‘mosca na sopa’ e ‘caroço no angu’ nessa época de Réveillon,   em que as coisas meio que fogem do controle. Mas diferente de outras praias do litoral gaúcho, não tivemos, por exemplo, problemas de abastecimento de água (conforme informou Juliana Mesquita, Chefe da Unidade da Corsan de Torres). Também não tivemos os sérios problemas de queda de luz de outros anos, conforme a CEEE (que se diz mais preparada para atender a demanda esse ano)

E   se a nossa cidade fica tão lotada, há boas razíµes para isso, que não se resumem ao calor do verão. Há sempre nossas belezas naturais que encantam (e muito!) os visitantes, principalmente quem vêm para cá pela primeira vez. Maria de Lourdes Rezende, de 76 anos, de Porto Alegre, alugou uma casa com a famí­lia e fez, neste verão, sua estreia em Torres. Em passeio pela Guarita, citou o lugar como um dos ‘mais bonitos que já viu na vida’.   Já o casal de argentinos da terceira idade Mariana e Matteo (de Cordoba) são frequentadores mais assí­duos de nossa cidade: vieram para cá pela quinta vez este ano. Eles dizem que as razíµes para voltar para cá são óbvias: a praia é ótima, com sua areia fina, e a disponibilidade de serviços variados um diferencial. "Até o pegar a estrada para vir para cá se torna uma aventura boa, apesar da distância", disse Mariana.

Ou seja: temos sim motivos para reclamar, temos muito o que melhorar para sermos a cidade turí­stica que realmente almejamos. Mas, certamente, vai haver muito mais gente que vai voltar para casa após uma temporada em Torres com ótimas recordaçíµes e histórias na bagagem. E nós, moradores e frequentadores recorrentes, podemos até reclamar, mas temos que também botar a mão na massa, fazer nossa parte para que a cidade seja ideal para nós e para os visitantes.

 

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