Palestra em Torres aborda pontos positivos e negativos da possível instalação de um Porto Marítimo no Litoral

Evento, conduzido pelo doutor em economia Carlos Paiva, lotou o Espaço Ten Caten (foto) e teve foco predominantemente nas consequências negativas da construção de um terminal portuário em Torres

Foto da palestra, no Espaço Ten Caten (por Alexis Sanson - Praia Limpa Torres)
24 de junho de 2019

Na noite do último dia 20 de junho, foi realizada uma palestra no Espaço Ten Caten com o doutor. em economia Carlos Paiva. Organizada pelo Coletivo Litoral Sustentável, a palestra abordou sobre o projeto que vem sendo debatido – por lideranças políticas, econômicas e sociedade organizada do RS – para a instalação de um Porto Marítimo no Litoral Norte Gaúcho, possivelmente em Torres ou Arroio do Sal.

A sala do Espaço Ten Caten ficou lotada para o evento. Conforme os organizadores, cerca de 100 pessoas ligadas a diversas entidades, lideranças comunitárias de Torres e região e sociedade em geral prestigiaram a palestra, que contou também com a presença da Ambientalista Lara Lutzenberger. Dados e informações apresentados pelo Dr. Carlos Paiva destacaram os prováveis impactos positivos e negativos de um projeto do porte de um terminal portuário.

 

Palestrante pensa que porto em Torres seria ‘tiro no pé’

 

Em sua palestra, o doutor em economia Carlos Paiva lembrou do crescimento populacional acima da média pelo qual vem passando o litoral norte gaúcho (em comparação com o restante do Rio Grande do Sul) – crescimento em especial decorrente da vinda de aposentados, que chegam para morar na praia em busca da qualidade de vida da região. “Este crescimento demográfico provavelmente  perderia força com a instalação de um porto, que faria diminuir a atratividade para novas pessoas virem a se instalar ou passar o veraneio em Torres”, indicou o palestrante

Paiva considera a implantação de um porto em Torres como ‘um tiro no pé’. Se por um lado a significativa geração de impostos locais gerados por um terminal portuário seria um dos pontos positivos para Torres a longo prazo, por outro lado os custos muito altos da construção de um porto na região de Torres  -projeto que demoraria anos para ser efetivados e necessitaria de melhorias infraestruturais prévias  pra região de entorno de sua instalação –  podem inviabilizar a obra, conforme Carlos Paiva. Além disso, o palestrante ressaltou os possíveis aumentos do nível de prostituição e tráfico de drogas a partir da instalação de um porto, além da pouca geração de empregos diretos de qualidade locais “Além de um provável incremento no comércio permanente – juntamente com a ampliação de oportunidades para caminhoneiros e estivadores – o nível dos emprego que seriam gerado seria ruim”.

. Entre outros pontos abordados pelo palestrante, a desvalorização do mercado imobiliário (em especial de alto padrão) e desgaste turístico também foram apontados como possíveis consequências negativas da efetivação de um terminal portuário na região de Torres.

 

Comparações com outros municípios e participação popular

 

Em Itapoá (extremo norte de Santa Catarina) , um porto foi instalado há alguns anos, e este está servindo de modelo para o terminal portuário que poderia ser instalado no litoral gaúcho. De acordo com Paiva – que juntamente com um grupo de pesquisadores visitou Itapoá –  a partir da implementação do porto houve aumento na estabilidade comercial da região, mas também uma migração de parte da demanda turística que aproveitava a qualidade de vida do balneário catarinense. “É um projeto muito complexo, e por isso é preciso que as autoridades que planejam a implementação do porto avaliem a ideia com muito rigor e junto a população”

Sobre a possibilidade da instalação do Porto deslocar-se para Arroio do Sal – o palestrante indicou que, se por um lado a cidade perderia os impostos diretos ao município, por outro os trabalhadores do porto provavelmente viriam consumir em Torres, gerando assim divisas na cidade. Mas o economista Carlos Paiva sugere que a região litorânea de Terra de Areia (nos arredores de Curumim) seria a estratégia mais inteligente para a instalação do porto no litoral gaúcho. Para ele, o local tem uma área mais larga para instalação de um retroporto (área de entorno do porto, para armazéns e instalação de empresas), além de possivelmente reverter em mais baixos custos, tanto sociais como turísticos e econômicos.

A palestra teve ainda grande participação popular, em geral com diversas manifestações contrárias à instalação do porto, destacando questões como a alteração da rota migratória de animais marinhos, a poluição por óleo decorrente das embarcações e a desvalorização do turismo em Torres.  “Em resumo, penso que – por questões geológicas, econômicas e ambientais, juntamente com as razões dos estudos apresentados (pelo palestrante Carlos Paiva) este projeto se torna inviável. Mas cabe sempre o alerta para finalidades político eleitoreiras e econômicas dos interesses envolvidos pelos incentivadores deste projeto”, ressaltou no Facebook o organizador do Praia Limpa Torres, Alexis Sanson, após sua participação na palestra.

 

Uma rápida síntese sobre os debates acerca do porto

 

A ideia de implantação de um novo porto marítimo no litoral norte do RS – inicialmente previsto para a região de Torres – começou a ganhar corpo e ser discutida no ano passado, sendo noticiada em A FOLHA desde setembro de 2018. A construção de um terminal portuário é defendida por empresários gaúchos e algumas lideranças políticas como uma forma de melhorar o escoamento da produção no RS, e ganhou um aliado político de peso com a eleição pra senador do então deputado Luís Carlos Heinze, defensor da pauta.

Algumas reuniões (abertas ao público em geral ou não) já foram realizadas para tratar do assunto, incluindo uma audiência pública (que gerou polêmica por ter proibido a entrada de mais cidadãos em um auditório já superlotado, na Ulbra Torres) Apesar de contar com apoio de uma parcela significativa da população torrense – que vê no porto uma oportunidade de geração de emprego, desenvolvimento em infraestrutura pra região e outras vantagens – outra parcela da população se posiciona contra o porto por questões de turísticas, de segurança, ambientais (como poluição gerada nos mares e alteração na rota de animais marinhos migratórios) entre outros.

A Marinha do Brasil recentemente entregou relatório garantindo viabilidade técnica para instalação de um porto na região de Torres. O município de Arroio do Sal também aparece como possível foco para a instalação do terminal portuário.


Publicado em: Geral






Veja Também





Links Patrocinados