Mais que uma aula, a palestra do agrônomo Sebastião Pinheiro, na tarde de 17 de setembro, no Auditório da Prefeitura Municipal de Três Cachoeiras foi um convite ao pensamento crítico. Entre diversos temas que interferem na realidade desde a origem da Terra até o contexto atual, o agrônomo falou sobre as relações entre agricultura, agrotóxicos, saúde, consumo, consciência e cidadania. Mas não assim, como assuntos separados. Para Sebastião, tudo está conectado.
Na agricultura, por exemplo, destacou a vida do solo, a ação dos micróbios que há 3,8 bilhões de anos vivificam a superfície do planeta, a relação direta entre a quantidade de microrganismos na terra e a qualidade dos alimentos e da saúde humana. Conforme Sebastião, no século 20 o solo era visto como algo inerte. Hoje, sabe-se que é um ser vivo que abriga a vida, mas não envelhece. “Quanto mais bem manejado, mais saúde ele tem”. Esta saúde é transmitida para os alimentos: “Se o solo é são, o alimento é são e você é saudável”.
Contra essa proposta, estariam interesses de corporações, fabricantes de agrotóxicos e proprietárias de recursos naturais usados em adubos químicos. Há alguns anos existe também a compra, por parte de grandes grupos econômicos, de empresas de produtos orgânicos. Tal mudança, para Sebastião, em nada contribui para tornar os orgânicos acessíveis às pessoas, sendo a organização entre quem produz e quem consome a resposta para o dilema “Um é caro, o outro tem veneno”.
Fipronil: pior que DDT
Sobre a mortandade de abelhas no Brasil e no mundo, mostrou por que o agrotóxico fipronil é muito mais tóxico para os insetos do que o banido DDT. Falou também sobre o projeto de mineração da Mina Guaíba, na região de Porto Alegre: “A maior plantação de arroz orgânico do mundo está no Brasil e é de um movimento que não tem terras. E agora querem terminar com tudo com uma área de mineração”.
No final, o autor de Agroecologia 7.0 e muitas outras publicações frisou que, apesar de todos os fatos apresentados “não devemos ter pessimismo, devemos praticar a agroecologia”. Agroecologistas que, para ele, têm o papel de alimentar a humanidade. A palestra Agroecologia foi organizada pelo Centro Ecológico, com apoio da Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica e Núcleo Litoral Solidário da Rede Ecovida de Agroecologia.