O Casarão dos Müller é um edifício singular da região de Torres que precisa em caráter de urgência de reparos, de medidas de proteção e manutenção, enquadrados um projeto mais amplo de preservação e valorização. Para isso acontecer, o edifício necessita de uma atenção redobrada por parte do poder público, conforme o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Arquitetônico (COMPHAC) vem repetidamente solicitando.
A casa, construída em 1881, foi sede de estância e parada de tropeiros. Foi feita com materiais da região, tem estrutura mista de pedra e madeira e o reboco é com cal feita das conchas da Praia da Cal. Mas além dos intrínsecos e indubitáveis valores históricos e patrimoniais do edifício, a sua localização o torna uma peça importante para o planejamento a escala regional. O Casarão dos Müller se encontra no vértice daquele território que da Vila São João se adentra pelo interior, acompanhando o Rio Mampituba, em direção da Serra Geral, representando um verdadeiro portal de acesso para quem transita do interior para o litoral.
Possível inclusão do edifício em projetos turísticos?
A aparente excentricidade geográfica, em relação ao tradicional “centro” do território municipal de Torres, simbolicamente situado junto ao mar, na verdade é mais uma componente relevante para o edifício, na ótica de seus possíveis usos futuros. É de fato o ponto de Torres mais próximo aos cânions do sul, localizada numa elevação natural (o morro dos Müller), praticamente no ponto de encontro da BR 494, já asfaltada (que provém de Morrinhos do Sul em direção a Mampituba/Praia Grande), e a BR 453 (que sai da Vila S. João para o interior, paralela ao Rio Mampituba).
O local representa então um mirante privilegiado de importância estratégica no contexto do projeto de Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, que é um projeto intermunicipal e que, em Torres, é representado unicamente por uma unidade geomorfológica similar, os morros do Parque da Guarita.
Mas o edifício também pode assumir um papel relevante no âmbito de outro projeto, este a escala municipal, mas com conexões com municípios vizinhos: o projeto denominado de Raízes de Torres que visa valorizar pontos turísticos do interior do município. Hoje o projeto é centrado mais em aspetos gastronômicos e do artesanato, mas pode, aliás necessita, ser enriquecido com a valorização de elementos de patrimônio material e imaterial para decolar definitivamente como atrativo turístico.
Considerando estas perspectivas, o tombamento e o restauro do edifício, são não só importantes do ponto de vista simbólico e patrimonial, mas com um inteligente projeto de reuso, podem auxiliar o desejável modelo de desenvolvimento sustentável do interior do território municipal.
Um pouco sobre a história do Casarão dos Müller
Conforme o historiador torrense Leonardo Gedeon, o Casarão dos Müller foi construído em 1881 (sendo um dos raros imóveis do século 19 ainda de pé em Torres), tendo sido sede de estância e parada de tropeiros. Foi feita com materiais da região, estrutura mista de pedra e madeira. O reboco é da cal feita das conchas da Praia da Cal.
Trata-se de um imóvel raro, um dos únicos remanescentes na região do período de atuação do tropeirismo – comerciantes condutores de tropas, levando e trazendo mercadorias de lugares distantes (em épocas que, sem veículos automotores, o transposte de mercadorias era muito mais difícil). Nesta época, conforme pesquisas de Gedeon, no Casarão dos Müller funcionava um armazém de secos e molhados