Tendo à frente as plantas alimentícias não convencionais (Panc) e a compostagem, a 21ª Feira da Biodiversidade foi um convite a repensar o ciclo da alimentação no contexto da emergência climática. Ao lado da produção agroecológica, meliponicultura, plantas ornamentais, artesanato com fibras naturais e arte indígena, os dois temas predominaram no Salão Paroquial de Três Cachoeiras durante todo o dia 26 de junho (quarta-feira).
A compostagem e a destinação correta de resíduos sólidos estavam presentes na mostra de trabalhos de duas escolas e em uma oficina da feira. Já os 40 quilos de resíduos orgânicos do evento foram para as leiras da Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom José Baréa, na comunidade de Santo Anjo da Guarda, também em Três Cachoeiras.
Mas foram as panc que mais cresceram nesta feira. A área ocupada pelas plantas não convencionais era visivelmente maior do que em todas as edições anteriores. Houve duas oficinas práticas, com muitas pessoas interessadas na alimentação e nas bebidas Panc. O cardápio do almoço preparado pela cozinheira Daniela Lumertz da Luz teve mangará, polpa de juçara e folhosas Panc. Já quase no final do evento, foi realizada uma oficina de despolpa dos frutos da palmeira juçara. O uso alimentar dos frutos da juçara ainda é desconhecido pela maior parte das pessoas da região e por isso a polpa ainda é considerada não convencional.
Promoção, parcerias e apoio
A 21ª Feira da Biodiversidade foi promovida pela Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Urbanas (AMTRU) e Centro Ecológico, numa parceria entre o Núcleo Litoral Solidário da Rede Ecovida de Agroecologia e a Associação Regional Sindical Litoral. O Fundo de Adaptação e Inovação Climática, a Rede Terra do Futuro e a Sociedade Sueca de Conservação da Natureza (SSNC) apoiaram o evento.
Oficinas PANC
Na oficina da manhã, Francisco Viveiros dos Reis do espaço Mirante do Poente de Osório, ofereceu degustação de um prato preparado com semente de pinhão, semente de girassol, ora-pro-nobis, capiçoba, manguba, inhame e cará do ar, chamado entrevero panc. Depois que as participantes aprovaram o prato, ele falou sobre as propriedades dos ingredientes, ressaltando os benefícios e a facilidade para obtê-los, porque a maioria cresce no quintal ou pode ser facilmente cultivada perto das casas. “Novas condições de vida começam pela nossa alimentação”, lembrou o especialista.
Na oficina da tarde, Danielle Peirot da Paz, da Agroindústria Chácara Lírio do Brejo de Maquiné, falou sobre as bebidas que podem ser feitas com frutas da biodiversidade, flores e ervas, que muitas vezes são alimentos. “E como a gente pode naturalizar o chá, aquela infusão não só quando a gente precisa de um remédio. A ideia é tornar ele uma bebida funcional, para o dia a dia, que acalenta, que relaxa, que é gostosa. Pode beber gelado, pode beber quente. É a possibilidade que ele traz de justamente de ter outros nutrientes, outros sabores”, explicou a agricultora.
Diversidade e Públicos
Além das oficinas sobre panc e compostagem, a feira teve atividades como dança circular e pintura indígena nas crianças, com a presença de cinco aldeias de municípios do Litoral Norte e apresentações musicais da Nhu-Porã, de Torres.
Com mais de 50 expositores inscritos, a 21ª edição atraiu diferentes públicos, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Três Cachoeiras e pessoas ligadas ao Ambulatório de Saúde Mental (Ament) de Xangri-lá. A organização estimou que passaram pela feira aproximadamente mil pessoas e foram servidos pelo menos 170 almoços.