A campanha “Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla” acontece entre os dias 21 e 28 de agosto. E neste período, as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) espalhadas pelo país realizam ações especiais para lembrar a data, abrir debates e colocar a sociedade brasileira em reflexão – no dever da igualdade e inclusão dos excepcionais. Em 2017, a Semana tem com base o tema “Pessoa com deficiência: direitos, necessidades e realizações”. O objetivo é de quebrar tabus e vencer as barreiras da desigualdade, lutando pelos direitos das pessoas com deficiência, para que a inclusão se torne efetiva e as pessoas com deficiência se tornem mais preparadas e amparadas diante das dificuldades da vida.
Em Torres, várias atividades também estão sendo realizadas para celebrar a semana. Nesta quarta-feira (23), por exemplo, ocorreu o Encontro Regional das APAEs do Litoral Norte. O evento foi realizado no Salão Paroquial de Torres, e reuniu – entre usuários da APAE, professores e funcionários – cerca de 300 pessoas. Estes vieram de Santo Antônio da Patrulha, Tramandaí, Osório, Terra de Areia, Capão da Canoa e Três Cachoeiras (além de Torres). O jornal A FOLHA também marcou presença neste belo evento, uma grande festa onde o amor e a inclusão são alicerce para um mundo de respeito as diferenças.
Festa do amor
Os usuários das APAEs esbanjaram simpatia, pureza e alegria em meio a muita música e dança do encontro regional. Num cenário repleto de boas energias e confraternização, os presentes compartilharam o espaço durante todo o dia e fizeram a festa, com pausas para café da manhã, almoço e lanche. “Acho isso tudo muito lindo, adoro dançar e cantar. Melhor ainda com essas músicas alegres, dançando com os meninos”, sentenciou a desinibida Adriana (portadora de Sindrome de Down). Conforme me revelou a assistente social Maria Zéa Pires,romances são uma realidade entre os usuários nas APAEs. “Aqui no encontro, temos até um casal de namorados que mora em cidades diferentes do litoral, e que em eventos de integração das APAEs, como este, tem a possibilidade de se reencontrar e compartilhar seu amor”.
A professora Cloreci Argemira Matos dos Santos tem 21 anos de atuação junto a APAE de Torres. Em meio a festa propiciada pelo encontro regional, ela lembrou que Torres é referência em atendimento as pessoas com deficiência no litoral, e que, por isso mesmo congrega eventos (sejam festivos ou de debate) sobre a inclusão, atendimento e garantia de direito de pessoas com deficiência. “Eventos como este propiciam aos usuários da APAE terem uma convivência social intensa, o que é muito importante. Para alguém como eu, que acompanho muitas dessas pessoas desde criança, é uma satisfação vê-los aqui, crescidos e divertindo-se, numa troca de energia muito boa. Excepcionais somos nós, que nos consideramos normais e, no dia-a-dia, nos esquecemos de todo esse afeto, carinho e respeito que os usuários da APAE esbanjam”, reflete Cloreci.
Também presente no encontro alusivo à Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, a secretária de Assistência Social de Torres, Neusa Carlo, anunciou aos presentes que a prefeitura está em fase de captação de recursos para a aquisição de uma Van adaptada, que irá melhorar o atendimento aos alunos da APAE de Torres, facilitando o transporte dos usuários. Uma notícia que foi recebida com satisfação pelos participantes.
APAE de Torres
Atualmente, a APAE de Torres conta com cerca de 200 usuários, que tem aulas na instituição e/ou utilizam-se dos atendimentos realizados pela instituição (serviços como fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, etc). “São professores,técnicos, voluntários, apoiadores e colaboradores que participam do dia-a-dia da APAE. A busca por recursos, para garantir a manutenção de toda esta estrutura, é sempre uma batalha, mas também é recompensador”, explica a diretora pedagógica da APAE, Indiana Machado.
Cada caso é analisado (e tratado) especificamente na APAE, onde a comunidade se une para prevenir e tratar a deficiência, além de promover o bem estar e desenvolvimento da pessoa com Síndrome de Down, Paralisia Cerebral e qualquer forma de deficiência ou síndrome que necessite de acompanhamento especial. Indiana explica que cerca de 70 usuários são, também, alunos das escolas normais, frequentando a APAE no contraturno. “Alguns alunos conseguem acompanhar o ensino regular nas escolas da cidade, mas não é o caso de todos, pois para outros a dificuldade é maior”, indica a diretora pedagógica, lembrando de alguns usuários da APAE que se integram harmoniosamente com a sociedade, inclusive participando do mercado de trabalho. “Ao longo de nossa trajetória já conseguimos inserir vários no mercado de trabalho. Atualmente, temos dois alunos trabalhando em supermercados da cidade, e outro já está sendo encaminhado para uma loja de varejo. É a prova, na prática, da inclusão social que continuamente buscamos”, finaliza Indiana.
A campanha da “Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla” segue em Torres nos próximos dias. No sábado (26), às 18h, haverá Missa na Igreja Santa Luzia em alusão a data. Já na manhã de domingo (27), haverá uma roda de chimarrão com o pessoal da APAE. A comunidade é convidada para participar de ambos eventos.
Pessoas com deficiência: história de lutas e enfrentamentos
FOTO: Apae atua desde os anos 50 no Brasil
A vida da pessoa com deficiência registra uma história de lutas e enfrentamentos. Enquanto no século XIX conviviam em instituições residenciais e sob os estudos médicos, em meio ao preconceito latente. No século XX, foi marcado pela ‘desinstitucionalização’ de atendimentos dessa natureza retrógada e, ao mesmo tempo, pela institucionalização da educação especial, quando surgiram as escolas e classes especiais. As APAEs são um movimento que se destacou no país pelo seu pioneirismo. Surgiu no Rio de Janeiro, no dia 11 de dezembro de 1954, na ocasião da chegada ao Brasil de Beatrice Bemis, procedente dos Estados Unidos, membro do corpo diplomático norte-americano e mãe de uma portadora de Síndrome de Down. Motivados por aquela cidadã, um grupo, congregando pais, amigos, professores e médicos de excepcionais, fundou a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Brasil. na sede da Sociedade Pestalozzi do Brasil. Esta colocou a disposição parte de um prédio, para que instalassem uma escola para crianças excepcionais. Nos anos 70, sob a lógica “o deficiente pode aprender”, na busca pela efetiva participação da pessoa com deficiência no mundo educacional, a educação especial foi direcionada por outros princípios – políticos, filosóficos e científicos – que influenciam premissas básicas para suas ações. Nessa época, sob a lógica “o deficiente pode se integrar na sociedade”, buscava-se a oferta de ambientes menos restritivos para sua educação. Foi isto que, conforme a APAE Brasil, “influenciou os textos normativos e outros caminhos, até se chegar à atualidade, influenciada pelos princípios e diretrizes da inclusão social, que tem desdobramentos nas políticas públicas diversas”.
|