O Brasil é líder na produção de energia eólica na América Latina. De acordo com ranking divulgado pela Global Wind Energy Council (GWEC), organização internacional especializada em energia eólica, o Brasil ocupou a 5ª posição no ranking mundial de capacidade instalada no ano passado, quando houve uma expansão de 2.014 Megawatts na geração de energia eólica no País em 2016. Mais de 7% de toda a energia produzida no Brasil parte de fontes eólicas – conforme o Ministério de Minas e Energia. E a tendência é de crescimento exponencial, sendo que a energia eólica já é mais barata na comparação com a energia gerada em usinas hidrelétricas,por exemplo.
O Nordeste brasileiro é o principal expoente do país quando o assunto é transformar vento em eletricidade, mas o litoral gaúcho também vêm há tempos investindo na energia eólica. Localizada numa área famosa por ser ventosa, faz 10 anos que o Parque Eólico de Osório gera desenvolvimento econômico e também social para o município. E além de Osório – que tornou-se referência estadual no assunto – outras cidades do Litoral Norte também possuem parques eólicos em seu perímetro: Palmares do Sul, Tramandaí, Xangri-lá. Municípios que geram emprego, renda e energia limpa a partir do vento.
Natureza, tecnologia, economia e criatividade se unem nos empreendimento de energia eólica. E se ventos são abundantes no litoral gaúcho, porque será que a região de Torres e Arroio do Sal não tem um empreendimento desse tipo? Haveria algum tipo de impedimento ou será que simplesmente não houve nenhuma iniciativa para trazer energia eólica para Torres? O jornal A FOLHA decidiu ir atrás de algumas respostas sobre o assunto.
Pouca sondagem no município
Primeiramente, conversamos com o biólogo Rivaldo Raimundo, há muitos anos servidor da Secretaria do Meio Ambiente de Torres. Ele nos informou que não há, junto a prefeitura, nenhum pedido de avaliação sobre empreendimentos relacionados com a energia eólica. Ele diz que nunca chegou a ver nenhum documento sobre este assunto tramitando no município. “Internamente, o assunto já veio a tona, mas nada muito concreto. Não há impedimento (ambiental) local contra empreendimentos de geração de energia eólica, porém não houve procura. E teria que ser analisado onde instalar: em Osório, por exemplo, o parque eólico está próximo às lagoas. Aqui em Torres, a Lagoa de Itapeva tem o Aeroporto Regional instalado na proximidade, por exemplo, o que poderia complicar a situação. Teria que ser feito um detalhado estudo de viabilidade, antes da instalação”.
Já o ex-secretário do Meio Ambiente de Torres, biólogo Roger Maciel, ressalta que, alguns anos atrás houve um estudo de viabilidade feito com uma empresa – que chegou a sondar a possibilidade de instalação de um parque eólico, na região do bairro Campo Bonito. Entretanto, a alternativa ficou só na sondagem. “Tem viabilidade em Torres, como em todo o litoral norte gaúcho – que é bem ventoso. Acho que seria ótimo que tivéssemos empreendimentos de energia eólica na cidade, temos que aproveitar o potencial dessas energias renováveis”, finalizou Roger.
Dificuldades pela localização geográfica
Finalmente, entramos em contato com o gerente de Planejamento da Secretaria de Minas e Energia do RS, Éberson Silveira. Ele ressaltou que Torres e Arroio do Sal, apesar de serem tão bem servida por vento quanto as cidades mais ao sul do Litoral Norte, possuem uma área reduzida para uso por empreendimentos de energia eólica. “Comparativamente com o Litoral, o principal impedimento seria de disponibilidade de áreas grandes em Torres e Arroio do Sal. Isso porque a região fica ‘espremida’ entre a serra e o mar, tendo ainda a Lagoa da Itapeva ocupando grande área. São necessários cerca de 500 hectares para construir parque eólico com capacidade de produzir 30 megawatts – o que ainda não seria uma grande capacidade. Além disso, a maioria dos balneários (de Torres e Arroio do Sal) já está urbanizado e em processo de urbanização”. disse Éberson, que ainda salienta que, provavelmente, a região de Torres enfrentaria algumas restrições na implementação de parques eólicos pela proximidade com áreas de proteção ambiental, dunas e lagoas
Não há proibições específicas de instalação de um parque eólico na área de Torres. Entretanto, Éberson indica que, nos muitos anos que vêm trabalhando junto a Secretaria de Minas e Energia, ele não teve conhecimento de qualquer potencial empreendimento de energia eólica para Torres e Arroio do Sal. “O fato é que (no RS) tem lugares mais fáceis e com fatores de competitividade melhor do que Torres, capazes de extrair uma boa quantidade de energia em cada turbina. E isso é peça chave para que este tipo de empreendimento torne-se interessante ao investidor. A campanha, o sul do estado e o litoral sul, por exemplo, são regiões com alto potencial e investimentos previstos para breve”, conclui Éberson.