Câmara adia votação de polêmico projeto que substitui tributos de cartórios e registros em Torres

Para vereador Rogerinho (e), medida empurraria mais um imposto ao contribuinte. Já Gimi (d) salientou que cartórios querem evitar espécie de 'bitributação'

31 de agosto de 2017

Era para ter ocorrido nesta segunda-feira (28) na Câmara dos Vereadores de Torres, mas acabou ficando para a próxima sessão ordinária – que ocorrerá na tarde de 04/09 – a votação de um importante (e polêmico) projeto de lei complementar, que realiza uma alteração no Código Tributário do município. De autoria do poder executivo de Torres, o PL 03/2017 quer, na prática, substituir a forma de tributação dos serviços cartorários e notariais da cidade. O texto assinado pelo prefeito Carlos Souza quer garantir constitucionalmente que valor do ISS (Imposto sobre Serviços) cobrado dos notários e oficiais de registro público seja pago pelos usuários destes serviços – no caso o público em geral.

A pauta vem gerando debates calorosos na Câmara de Vereadores de Torres desde a sessão de 21 de agosto, quando o vereador do PP Rogério Jacob, o Rogerinho, pediu o adiamento da discussão e votação do PL 03/2017 – o que foi acatado pela Casa Legislativa. Desde então Rogerinho já vinha se manifestando contra, alegando que trata-se de uma medida pra  transferir novo imposto ao contribuinte em um serviço muito utilizado. E o assunto foi intensificado na sessão da última segunda-feira (28) durante a discussão do projeto. Vale ressaltar que o debate é apenas se será o prestador ou tomador do serviço quem pagará o ISS dos cartórios, tabelionatos e registros públicos  – uma vez que o imposto já é (e seguirá sendo) recolhido pela prefeitura.

 

Posições divergentes sobre quem paga o imposto

 

“Só quem se favoreceria seriam os cartórios, tabelionatos, postos de Registro Civil. Quem deve arcar com o imposto é o prestador do serviço, ou seja, são eles, não toda a população (que usa os serviços). Não acredito que os vereadores possam estar de acordo com isso, que venham votar favorável a este projeto”, reforçou o vereador Rogerinho. O pedetista ainda salientou que, no cenário nacional, os representantes de serviços cartorários e notariais teriam entrado judicialmente para que a categoria fosse comparada a dos profissionais liberais, o que os levaria a ter um ISS fixo. “Mas os Tribunais de Justiça entenderam que os tabelionatos são equiparados as empresas. Assim eles teriam que pagar (o ISS) para a prefeitura”.

Posicionando-se juridicamente para explicar a causa dos cartorários e serviços notariais, o vereador Gimi Vidal (PMDB) foi o responsável pelo pedido de adiamento do PL 03/2017 – pedido que foi aceito pela mesa diretora da Casa Legislativa torrense. Em seu pronunciamento durante a discussão do projeto, Gimi afirmou não se tratar de uma “teoria de conspiração do executivo pra isentar os cartórios e oficiais de registros deste pagamento”, mas sim uma ação que ocorre em cidades de todo o país, onde as categorias cartorial e notarial pedem correção do que consideram um erro – uma vez que os representantes desta classe já pagam imposto de renda sobre pessoa física (27,5% do total sobre a renda declarada) e prestam serviço delegado pelo poder público. Com a cobrança do ISS, eles tem que pagar (como qualquer empresa) cerca de 3% do valor sobre o serviço também para a prefeitura.

“Trata-se de uma questão de bitributação. Deste modo, cobrar dos cartórios e tabelionatos o ISS deste montante seria irregular”, disse o vereador do PMDB, que salientou que em municípios como Porto Alegre e Caxias do Sul já foi encaminhada esta iniciativa. Citou ainda que, agora, os cartórios de Torres reivindicam o princípio da isonomia – querem garantir que, como em Porto Alegre e Caxias,  a lei seja a mesma para cá também. Entretanto – conforme apurado por A FOLHA – há Câmaras dos Vereadores como a de Arroio do Tigre que já rejeitaram, em agosto deste ano, projetos como o que está em debate Torres, para substituição dos tributos dos serviços cartorários e notariais. Em Arroio do Tigre, a própria população encheu a câmara dos vereadores para fazer pressão contra a votação da proposta (conforme noticiado pelo jornal GAZ).

 

Mais tempo (e embasamento) antes da votação

 

Após os dois pronunciamentos mais contundentes, outros vereadores também manifestaram-se brevemente sobre o assunto. Para Carlos Monteiro, o Tubarão (PMDB), trata-se de um projeto complicado para a base de governo, assumindo a necessidade de mais tempo para a analisar a questão da legislação tributária deste caso. “Respeito as opiniões, mas penso que em geral deve-se votar a favor das maioria. E com certeza, quem vai ganhar com esse projeto é a minoria. Aparentemente, a grande maioria vai pagar o pato por este projeto. Mas é bom termos mais essa semana analisar”, disse Tubarão. A importância para ter um tempo extra pra se inteirar sobre o caso também foi ressaltada por Dê Goulart (PDT).

Ao final da discussão, o vereador Gimi sugeriu que fosse realizada uma reunião com a prefeitura, para que técnicos com mais conhecimento sobre a questão e a legislação tributária possam explicar o projeto, e assim vereadores de Torres possam melhor embasar sua decisão antes de votar. A ideia foi acatada pelos seus colegas da Casa Legislativa.

 

 


Publicado em: Política






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