A SAPT e as Sociedades dos Amigos das Praias (parte 1)

Embora a origem dos primeiros povoamentos do litoral gaúcho tenha ocorrido por outros motivos que não o veraneio, o desenvolvimento urbano da região a partir da década de 1930 foi fortemente atrelado à consolidação dos costumes de se passar as férias de verão na praia.

Antigo prédio da SAPT (pintura por Roni Dalipaz)
17 de maio de 2023

Em tempos idos os balneários litorâneos tinham os hotéis como o local de destino dos visitantes, eles tinham a infraestrutura capaz de abrigar e dar um mínimo de conforto aos, até então turistas. O tempo e as circunstâncias mudaram um pouco esta forma de ocupação do litoral gaúcho, que passou a ser a segunda residência de muitos turistas, transformando-os em veranistas.

Era a fase de transição dos hotéis balneários para as casas de veraneio, nos anos 1930/40.

Embora a origem dos primeiros povoamentos do litoral gaúcho tenha ocorrido por outros motivos que não o veraneio, o desenvolvimento urbano da região a partir da década de 1930 foi fortemente atrelado à consolidação dos costumes de se passar as férias de verão na praia.

As recém formadas praias de balneário, foram se organizando em torno de uma elite agrupada na forma de “não nativos”, mas como amigos do lugar que queriam ocupar e desfrutar. Estavam formadas as Sociedades dos Amigos das Praias, das diversas praias.

Estas sociedades tiveram o papel de melhor organizar o lugar, ou a praia que estava sendo ocupada (colonizada, comprada, utilizada, não sei bem o termo) e, em conjunto com os gestores locais (prefeitos), levar o máximo de infraestrutura para o local. E foi o que aconteceu. Muitas das pequenas praias, pequenos balneários, prosperaram com o apoio dos “Amigos” de fora. Eles levaram a estes pobres locais um pouco do conforto que tinham em suas cidades de origem. A ideia era passar férias no local escolhido, mas com o conforto de suas casas.

No início da implantação dos loteamentos residenciais, os hotéis desempenharam um papel de suma importância na congregação da comunidade veranista que estava se formando. Entre os ambientes dos hotéis, cujas funções eram voltadas para a sociabilidade e entretenimento, estavam as salas de jogos,salas de estar, salão de bailes e bar. Alguns hotéis ainda dispunham de cassino ou cinema . A formação da maior parte das agremiações praianas entre 1936 e 1955 ocorreu nas dependências de hotéis.

A primeira que surgiu foi a SAPT (Sociedade dos Amigos da Praia de Torres), no salão do Balneário Picoral no ano de 1936; em 1945 foi a vez da SAT (Sociedade dos Amigos de Tramandaí), criada nas dependências do Hotel Corrêa; também em 1945, no Hotel Riograndense, foi criada a SACC (Sociedade dos Amigos de Capão da Canoa); no ano de 1955 foi a vez da APC (Atlântida Praia Clube), formada no Hotel Atlântida; a SABA (Sociedade dos Amigos do Balneário Atlântida) teve sua origem na dissidência de associados do Atlântida Praia Clube, quando este ainda usufruía do espaço físico do salão de festas do Hotel Atlântida; a SAPI (Sociedade dos Amigos da Praia do Imbé) surgiu num contexto diferente, numa reunião de veranistas à beira-mar em 1949; formação da SAAS (Sociedade dos Amigos de Arroio do Sal) ocorreu na residência de uma família de veranistas, como um movimento reivindicatório de melhorias na infraestrutura do balneário.

Como dito lá no início o principal intuito de todas as sociedades praianas mencionadas, era de se organizar em comunidade e cobrar da municipalidade ou do Estado, benfeitorias fundamentais para o bom funcionamento das temporadas balneárias, ou, em alguns casos, com a força da coletividade, realizar melhoramentos e serviços necessários. Nos anos 1960, cada balneário marítimo do Rio Grande do Sul possuía pelo menos um clube social.

Nas próximas semanas falarei sobre as principais Sociedades dos Amigos das Praias gaúchas.

(Continua na próxima semana)

 

Fonte: As  Sociedades Praianas na Arquitetura Do Litoral Norte do RS. Dissertação de Mestrado. Marione Denise Otto.

 




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