“Todos os verões, muitos gaúchos deixam suas cidades para praticar a vilegiatura marítima no litoral norte do Rio Grande do Sul. No entanto, muitos veranistas, ao se depararem com o infinito oceano e a longa costa arenosa, desejam que as águas frias das praias gaúchas se tornem quentes e límpidas.”
Antes de entrar no assunto desta semana, vou contar uma pequena história que, mesmo não tendo nada a ver com o que vou falar, ajuda no desenvolvimento da ideia. Bem, você vai entender!
Lendo a coluna do professor Moreno, no jornal Zero Hora, vi a aflição de um leitor sobre a origem de uma palavra. O tal leitor contou ao professor que em um dia de passeio com o seu carro nas ruas esburacadas (como as nossas), de sua cidade, teve dois pneus furados. Ao estacionar em frente a uma padaria, resolveu pedir informações sobre onde consertar os pneus. Entrou na padaria e perguntou ao atendente se havia alguma vulcanizadora ali por perto. Ao ver o espanto e o desconhecimento do atendente frente a palavra “vulcanizadora”, um senhor, com mais idade, a traduziu para o assustado rapaz. Trata-se de uma borracharia, disse o senhor.
Palavras pouco usadas caem em desuso e consequentemente desaparecem do cotidiano das pessoas, podendo ser até esquecidas, como o caso da palavra “vulcanizadora” que para os mais jovens não é assim tão conhecida.
Lendo uma dissertação de mestrado da pesquisadora Joana Carolina Schossler, intitulada “As nossas praias: primórdios da vilegiatura marítima no RS (1900 – 1950), da qual retirei o texto que abre esta coluna, encontrei uma destas palavras esquecidas, “Vilegiatura”, no caso “Vilegiatura Marítima”.
Vilegiatura marítima, você já ouviu falar disso?
Acredito que a palavra “Vilegiatura” seja uma novidade para uma grande parte da população. Assim como o exemplo da “vulcanizadora”, a “vilegiatura”, só não deve ser novidade para as pessoas mais idosas ou com mais idade, como diriam os mais jovens.
Me socorrendo do dicionário encontrei o seguinte significado para a palavra Vilegiatura: Temporada que se passa fora da zona de habitação habitual, a banhos, no campo ou viajando, para descansar dos trabalhos habituais. Principalmente na estação quente. Se juntarmos a ela a palavra Marítima, é só pensar em destinos de sol e mar.
Indo um pouco mais a fundo na raiz da palavra se tem: Do Italiano VILLEGGIATURA, de VILLEGIARE, “passar férias no campo”, de VILLA, “casa de campo”.
Como bem diz o texto inicial, os veranistas (ou seria, os vilegiaturistas), na visão atual, gostariam de ver, no lugar da longa costa arenosa, coqueiros e paisagens de tirar o fôlego, águas límpidas, verdinhas (ou azulzinhas) e quentes no lugar das frias e barrentas praias gaúchas. No entanto, o turismo por aqui surgiu exatamente por estas características: frias e escuras.
Para esclarecer esta afirmação, a prática dos banhos terapêuticos teve início no século XVIII nas praias europeias do Atlântico Norte e do Mar Báltico, as frias praias de Dieppe, Trouville, Ostende e Scheveningen. E diferente do que se possa pensar o frio das águas não era problema lá nos primórdios das estações balneares do RS, pois assim como as praias europeias, as nossas atraiam os turistas (curistas) e banhistas justamente pelas propriedades curativas dessas frias águas salgadas.
Pois é, hoje não é mais assim! Nem banhos terapêuticos nem águas frias, só ficou o gosto por viajar e descansar, sair da rotina. Na verdade, nem mesmo o nome “vilegiatura” é pronunciado! Este, certamente, já foi esquecido.
Fonte:Joana Carolina Schossler – As nossas praias: primórdios da vilegiatura marítima no RS (1900 – 1950). Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/vilegiatura [consultado em 24-05-2023].
