Eu lembro deste lugar dos meus tempos de criança. Meu pai era revendedor da Brahma e fornecia bebidas para o chamado “castelinho”, lembro vagamente do primeiro dia que fui lá.
A primeira visão era realmente esta da primeira foto. Um casarão no meio do nada. Para se chegar lá, só pela beira mar (aquele tempo se podia viajar pela beira mar). Essa estrada natural era melhor que um asfalto, porém havia obstáculos. Arroios que surgiam de repente, atoleiros de areias muito fofas, tudo isso fazia com que o veículo (carro, caminhão, ônibus) tivesse que entrar literalmente no mar para desviar do perigo, o que fazia com que muitos afundassem na beira da praia.
Passado esses obstáculos tinha o último que era o acesso ao lugar, normalmente as reentradas das praias eram novos atoleiros, embora vez ou outra eram patrolados, mas a frequência de entradas e os ventos faziam com que as areias virassem morros de difícil acesso.
Mas passado isso, lá estava o pomposo castelinho destacado na paisagem arenosa. Na memória de criança, tenho bem claro que estava encantado com o local, não tinha visto nada igual. Na entrada havia três grandes arcos que faziam parte de um grande avarandado, logo na grande porta de entrada do castelinho havia uma majestosa escada que levava a um salão no segundo andar. É só o que lembro, na época que o conheci já parecia estar entrando em decadência. Parecia um sobrevivente, ali no meio das dunas, longe de tudo. Por que alguém em sã consciência construiria um prédio no meio do nada? Qual era o objetivo inicial desta construção?
Existem algumas versões que respondem essas perguntas. Dizem que foi construído para ser um seminário, uma versão interessante pelo tamanho da construção. Já vi gente dizendo que ele data de 1895, o que considero difícil, pois o castelinho é uma construção do estilo californiano muito comum aqui no sul do país na década de 1930 e que se espalhou pelo litoral até meados dos anos 1950.
Uma versão bem plausível foi a que li em uma reportagem da Zero Hora em que dizia que o “castelinho” (tratado como palacete) tinha sido erguido por Hamid Iskandar em 1954. O libanês teria chegado na inóspita região de Torres, se encantou com a tranquilidade e adquiriu a área, delimitada hoje em 58 hectares, na praia conhecida como Riviera.
Lá pela década de 1970, quando o conheci, tenho certeza de que foi um tipo de hotel com um restaurante, pois foi o que vi. Não sei por quanto tempo funcionou, mas fechou e ficou muito tempo abandonado até que virou uma danceteria no final dos 90, mais ou menos. Agora está novamente semiabandonado, parece que tem uma família morando nele, possíveis parentes dos herdeiros do local.
Setenta anos depois, a vizinhança não é mais a mesma, os cômoros deram lugar a casas luxuosas de um condomínio horizontal, porém segue quase sozinho à beira-mar, que por ser área protegida, segue pouco povoada.
Fontes:https://www.youtube.com/watch?v=v77k9xBmkQ4 ; https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/verao/noticia/2022/02/sem-edificios-ou-restaurantes-e-com-um-unico-mercado-as-historias-dos-pequenos-balnearios-vizinhos-a-badaladas-praias-gauchas-ckz7cpiyg0064015pmoa71kwj.html
