O jogo, no Brasil, está proibido desde 1946 quando o então Presidente Eurico Gaspar Dutra, utilizando-se do Art. 180 da Constituição Federal de 1937, reestabelece através do Decreto Lei 9.215 a proibição dos jogos de azar no Brasil que declara em seu artigo terceiro que todas as licenças, concessões ou autorizações dadas pelas autoridades federais, estaduais ou municipais, com fundamento nas leis revogadas, ou que, de qualquer forma, contenham autorização em contrário ao disposto no artigo 50 e seus Parágrafos da Lei das Contravenções penais. Ou seja, proibiu os jogos de “azar” no Brasil.
Mas não é o que se vê hoje em dia, jogos de loterias (promovidas pelos governos), jogos do bicho, máquinas caça-níqueis, e mais alguns jogos clandestinos, estão a pleno vapor espalhados pelo país. Atualmente o que mais aparece são as famosas “bets”, as casas de apostas online, que sustentam não ser jogo de apostas mas, sim, divertimento.
Mas não é sobre as “apostas” atuais que vou escrever, o foco desta coluna são os cassinos no Brasil e mais precisamente no litoral do RS, lá no século passado.
Bem, essa história de cassinos remonta desde a época do Brasil Império, quando o país ainda era colônia de Portugal, e eles tiveram a sua época dourada nos anos 1930 e 40, período em que ofereciam muito mais que jogos de azar. Naquele tempo havia exibições de espetáculos com artistas famosos do país e do exterior e mantinham orquestras inteiras sob contrato.
Após a época do Império, os cassinos foram proibidos pela primeira vez, em 1917, mas voltaram com força total em 1934 quando iniciaram suas melhores décadas. Os famosos cassinos neste período foram o Cassino da Urca e o Copacabana Palace. O da Urca era o mais badalado e servia de palco para shows de artistas como Carmen Miranda, Emilinha Borba e Grande Otelo. O Cassino da Urca tinha alguns diferenciais, como um serviço de barcos que ficavam à disposição para transportar pessoas para o Cassino de Icaraí, em Niterói. O Cassino do Copacabana Palace era maior e mais luxuoso, e também recebia grandes espetáculos com muita gente famosa presente, como, por exemplo, Albert Einstein, Frank Sinatra e Santos Dumont. O Cassino do Copacabana tinha uma infraestrutura melhor do que a da maioria dos cassinos da Europa da época e recebeu o título de melhor casa de espetáculos da América do Sul.
Aqui pelo sul o mais famoso foi o Casino Hotel (assim mesmo, só com um “s”), situado na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. O Casino Hotel foi inaugurado na mesma data do balneário Vila Siqueira (que mais tarde herdou o nome Cassino), em 28 de janeiro de 1890, estava inacabado na ocasião de sua abertura, contando com apenas quatorze quartos concluídos. Ele não tinha o mesmo glamour dos cassinos cariocas, mas oferecia aos visitantes um hotel com dezenas de quartos, sala de refeições e cozinha com pessoal habilitado, grandes salões de concertos, bailes, jogos e locais para leitura e bondes, puxados a burro, que levavam os banhistas ao longo da avenida principal. O hotel teve seus áureos tempos, porém com a proibição de 1917, passou a atuar na clandestinidade até 1920 quando o governo, através do decreto no 3.987 permitiu temporariamente os jogos de azar em regiões balneárias termais e climáticas. Mais tarde, com a nova proibição, o hotel serviu de Quartel General para o exército brasileiro devido a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, e seu uso como unidade militar causou muitas mudanças e danos quase irreversíveis. Hoje, o hotel funciona com um novo nome, Hotel Atlântico, mas carrega, em suas paredes, as marcas do tempo e a força de um empreendimento que deu nome a um local.
O mais famoso foi o Casino Hotel, mas Torres também teve o seu Cassino. Na foto que ilustra esta coluna vemos uma procissão que passa em frente ao Hotel Farol e ao Tênis Club, local em que, supostamente, tenha funcionado o Cassino da cidade. Na época da foto ele não deveria mais estar funcionando, pois a fachada onde aparece “Tênis Club”, outrora aparecia “Cassino”. Há registros de que ali funcionou o Cassino da cidade, mas ainda são escassas as informações a este respeito.
Fonte: BARCELLOS, João. Cassino História e Ambientes: A educação e a sua preservação. Revista Mestrado em Educação Ambiental. Fundação Universidade do Rio Grande, 2000. https://diariodorio.com/historia-dos-cassinos-no-rio/; PEREIRA, Célia Maria Memórias de um Balneário: Patrimônio edificado do Cassino. Rio Grande. SALISGRAF, 2004. Casino Hotel: Um local de memória e turismo cultural no Balneário Cassino – RS, Alessandra Buriol Farinha.
