OPINIÃO – Era uma vez um torreão salva-vidas em Torres

"Ele nasceu em 1953 à beira mar de um lindo balneário do estado do RS chamado Torres (foto antiga). Seu propósito, além de glamourizar o local, era servir de apoio ao trabalho dos Salva-vidas do balneário… Passado muito tempo, enquanto está sendo restaurado (ou reformado, como já disseram), o Torreão, aguarda pelo projeto de seu entorno e também pelo restauro de tantos outros patrimônios esquecidos e maltratados"

22 de agosto de 2022

Vou contar uma pequena história que poderia ter um final feliz…

Era uma vez um “Torreão” Salva-vidas, ou simplesmente a Torre dos Salva-vidas. Ele nasceu em 1953 à beira mar de um lindo balneário do estado do RS chamado Torres. Seu propósito, além de glamourizar o local, era servir de apoio ao trabalho dos Salva-vidas do balneário.

E lá estava ele, imponente e altivo, ao lado dos perfilados toldos que completavam o glamour imitado dos balneários europeus.

Da beira mar, ele viu o balneário se transformar em uma famosa cidade turística. Atento a esse crescimento, o Torreão, serviu a seu propósito inicial de auxiliar os primeiros salva-vidas nas suas missões de zelar pelos banhistas que para cá viessem, fossem eles turistas, veranistas ou mesmo, torrenses.

O tempo passou e a sua missão foi perdendo valor, talvez pela distância do mar ou pelo aumento do número de frequentadores, ou ainda pela ocupação maior das areias, o fato foi que aquela estrutura ficou sem serventia. Pequenas guaritas salva-vidas começaram a fazer o mesmo trabalho com mais eficiência e ele, o Torreão, passou a ser esquecido. Espremido entre os quiosques, ele foi ficando invisível para a maioria das pessoas e para as várias administrações municipais que se sucederam. Com sua estrutura abalada, passou a ser rejeitado a ponto de ser cogitada a sua destruição.

A solução que escolheram foi a mais fácil: isolá-lo. Desta forma, ele ficou durante anos alternando sua forma de isolamento, grades, cercas, tapumes. Já sem muita esperança de ser lembrado, o velho Torreão, viu seu reboco cair, suas estruturas ficarem aparentes, sua pintura sumir e seu entorno ficar sujo e malcuidado, e pensou: Será que tudo isso terá um dia acabará?

Um certo dia chegaram algumas pessoas ao seu lado, olharam, olharam, conversaram, conversaram e colocaram uma placa. A placa dizia que “finalmente” o velho Torreão seria “reformado”.

Reformado? Pensou ele. Há tanto tempo esperando e vão apenas me reformar? Não terão, ao menos, o cuidado de me restaurar? E o meu entorno, ficará da mesma forma? E a minha utilidade será restaurada? Quero que todos lembrem de mim daqueles tempos em que podiam subir minhas escadas e olhar para tudo em volta do ponto mais alto da beira mar.

O espanto foi ainda maior quando soube quem iria fazer a “reforma”.

Quem? Aquela empresa que destruiu sem autorização uma casa que fazia parte do inventário de casas com valor histórico da cidade, e que através de um acordo com o Ministério Público está pagando, com mão de obra e materiais, a citada “reforma”?

Ainda não entendendo bem a situação, o velho Torreão, viu mais uma placa ser colocada aos seus pés. Era uma propaganda da tal empresa, na placa estava escrito: “Marco histórico da cidade sendo restaurado por…”. Mas a placa não dizia que a empresa estava restaurando este monumento porque fez um acordo com o MP, não dizia que estava pagando por um dano causado ao próprio patrimônio da cidade e, que agora, afirmava estar restaurando.

O velho Torreão ainda atônito se perguntava: Esta empresa foi punida com um prêmio (Propaganda, valor reduzido, e reforma)?? Se todas as empresas que destruírem o nosso patrimônio forem premiadas como esta, ficará difícil preservar alguma coisa por aqui.

Enquanto está sendo restaurado (ou reformado como já disseram), o Torreão, aguarda pelo projeto de seu entorno e também pelo restauro de tantos outros patrimônios esquecidos e maltratados.

Neste último dia 17 de agosto ele poderia ter comemorado o dia do Patrimônio Histórico Nacional com outros patrimônios da cidade como o prédio da antiga prefeitura (hoje Museu), a antiga escola Marcílio Dias (a do Morro do Farol), a Casa N1 (mais antiga construção da cidade), o Casarão dos Muller, o antigo Bar Abrigo (primeira sede da SAPT), o Farol de 1952 (em cima do Morro do Farol), os casarios centenários da Júlio de Castilhos (rua de baixo). Enfim, poderia comemorar a restauração e a conservação de todos esses patrimônios e de tantos outros que nem listados foram. Mas infelizmente não poderá, porque eles ainda correm risco, eles ainda estão desprotegidos.

 

 




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