QUEM NÃO GOSTA DA PRAINHA?

"Além das belezas naturais visíveis, a Prainha, possui algumas nem tão visíveis assim. Afinal ela faz parte da formação da primeira das três que deram o nome a cidade, embora nem pareça. Ela também fez parte da vida dos primeiros habitantes desse território: os índios. Portanto boa parte da história torrense está em cima e também em baixo do bairro Prainha".

13 de agosto de 2022

A Prainha é uma das praias ou os bairros de Torres mais visitados, tanto por moradores quanto por turistas/veranistas. Arrisco dizer que não tem uma só pessoa que não goste da Prainha. Ela é um charme só. Diferente de todas as outras praias, ela mistura pedras, areias, gramados e casas com estilo e históricas. Ela é tão querida, que nos fins de semana se transforma no ponto de encontro de todos. E isto é tão real que até criaram uma espécie de feira conhecida como “Minha Prainha” que acontece em alguns fins de semana durante o ano.

Além das belezas naturais visíveis, a Prainha, possui algumas nem tão visíveis assim. Afinal ela faz parte da formação da primeira das três que deram o nome a cidade, embora nem pareça. Ela também fez parte da vida dos primeiros habitantes desse território: os índios. Portanto boa parte da história torrense está em cima e também em baixo do bairro Prainha.

Essa é a Prainha, uma joia da cidade, que todos amamos. Mas se isso é realmente verdade, então por que não cuidamos dela da forma que merece? Se olharmos a Foto que ilustra esta coluna, veremos uma Prainha ainda com traços das antigas casas de veraneio, cheias de personalidade, que caracterizaram por anos esse bairro. Se olharmos com mais cuidado, nem aquela casa de bombas da Corsan estava por lá para estragar e poluir o local. Se olharmos uma foto atual veremos que ela perdeu várias destas construções, que deram lugar a prédios que, além de não terem um visual atraente, acabaram alterando a paisagem urbana do local.

A fim de proteger e valorizar este bairro, COMPHAC e o CEHTR solicitaram aos responsáveis pela elaboração do novo Plano Diretor que incluíssem o bairro conhecido como Prainha como ÁREA DE INTERESSE PAISAGÍSTICO, HISTÓRICO-CULTURAL E TURÍSTICO ou aumentassem a Área do bem tombado (a Igreja Matriz São Domingos) estendendo assim a área de proteção conhecida como “Poligonal” abrangendo novos vértices, o V10, V11 e V12. O novo traçado partiria do V9 da poligonal e seguiria via beira mar até a estação de bombeamento da CORSAN, V10; depois continuaria à beira mar até o Bar abrigo, V11 (primeira sede da SAPT), seguindo pela rua José A. Picoral até encontrar a rua Silva Jardim, V12 (como mostra a Figura 1).

Para não ser muito cansativa a leitura das justificativas apresentas pelo COMPHAC e o CEHTR, eu as apresento de forma resumida a seguir:

Proteção Arqueológica: Este bairro, que faz parte do antigo núcleo urbano da cidade, também está próximo e dentro, de remanescentes sítios demarcados por historiadores e pesquisadores do país e de fora dele. A cidade de Torres, assim como boa parte do litoral norte do estado, foi uma das primeiras áreas a receber atenção sob o ponto de vista da etnologia indígena. Há mais de cem anos que pesquisas arqueológicas de caráter científico e amador vêm sendo desenvolvidas em sítios encontrados ao longo da região e os remanescentes arqueológicos dos indígenas que ocuparam os limites naturais do sítio de Torres, entre o morro da Itapeva e as margens do Rio Mampituba,  que puderam ser demarcados foram os seguintes: Sambaqui do Mampituba; Sambaqui da Vila de Torres; Paradeiro do Hotel Picoral; Paradeiro de Torres; Sambaqui da Cal; Concheiros Naturais de Torres; Sambaqui do Campo do Curtume; e o Sambaqui da Guarita. Desses remanescentes arqueológicos, três deles se localizavam bem próximos ou dentro deste bairro.

Centro Urbano da primeira metade do século XX: Assim como o Centro Histórico foi o centro da vida urbana e local que concentrava a maior parte das construções, atividades e moradores a partir do final do século XVII e durante todo o século XIX, o bairro que vem a ser chamado Prainha ou Praia do Meio pode ser considerado como tendo sido o centro da vida urbana e veraneio a partir das primeiras décadas do século XX. O terreno alto, próximo ao mar e sem dunas da Prainha é naturalmente percebido como o local ideal para os primeiros empreendimentos voltados aos turistas e veranistas. Dessa época datam os dois primeiros hotéis de Torres, o Hotel Farol, de 1929, então uma construção mista de alvenaria e madeira com característica dos chalés madeira, e o Hotel Picoral, também conhecido como Quadrado Picoral. No período entre as décadas de 1930 e 1950 a Prainha foi sendo ocupada por casas de veraneio, sendo primeiramente mais comuns os chalés de madeira e a partir dos anos 1940 passa a se ver uma arquitetura muitas vezes pitoresca com referências a estilos europeus, ainda com presença de chalés de madeira e um bom número de casas inspiradas no estilo californiano, muito associado às casas de localizadas em balneários da época no litoral e na capital do estado.

Paisagem Urbana e Patrimônio Edificado: Aspecto importante a proteger neste espaço é a morfologia urbana e configuração do espaço edificado e sua relação com a paisagem natural. Pois essa paisagem peculiar se confunde com a própria imagem e identidade da cidade de Torres, tendo inegável importância simbólica para a sua população. Atualmente as casas da Prainha vêm sendo substituídas por edificações multifamiliares com proporções em desarmonia com as já citadas características do bairro, descaracterizando o aspecto cultivado por anos pelos moradores e veranistas. Assim como se fez no entorno da Igreja São Domingos, seria de real importância para o bairro também garantir a visibilidade e ambiência dos vários chalés e construções de valor histórico, artístico, paisagístico e das características físicas (morfológicas e seu perímetro), através da extensão da Poligonal já existente.

 

Fontes:FRIZZO, Rafael. “Mina preciosa para as obras da povoação”: Os sítios arqueológicos do antigo litoral de Torres, Rio Grande do Sul.

OTTO, Marione Denise. As sociedades praianas na arquitetura do litoral norte do Rio Grande do Sul. Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Dissertação de Mestrado). Porto Alegre, 2016.

RUSCHEL, Ruy Rubens. Determinantes iniciais de Torres. In: BARROSO, Véra Lucia Maciel; QUADROS, Terezinha C. de Borba; BROCCA Roseli Brovedan (orgs.). Raízes de Torres. Porto Alegre: EST, 1996.

 




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