VOCÊ VIU SE O DINDINHO PASSOU POR AQUI?

É claro que você conhece o dindinho, não é? Aquele transporte que parece um ônibus misturado com um trem e que só aparece no início do verão. Já está lembrando? Aquele que você já deve ter utilizado nas praias do litoral gaúcho para ir até a praia ou passear pelo balneário. Lembrou?

21 de novembro de 2022

Um tio da minha mulher vivia contando uma piada infame do Dindinho. Não sei se todos a conhecem, mas de tanto ouvir eu posso recontá-la àqueles que ainda não a ouviram. “Um turista do litoral aborda um policial (que também não era da cidade, veio do interior gaúcho para a conhecida Operação Verão) e pergunta.

-O senhor viu se o Dindinho passou por aqui?

O solícito policial responde, perguntando.

-Não vi nenhum menino passar por aqui, mas se disser como ele estava vestido eu posso procurar.”

 

Me desculpem a piada sem graça, mas ela tem tudo a ver com o contexto. A piada envolve o litoral norte e suas características peculiares e dentro dela o veículo só encontrado nestas “bandas”: o dindinho.

É claro que você conhece o dindinho, não é? Aquele transporte que parece um ônibus misturado com um trem e que só aparece no início do verão. Já está lembrando? Aquele que você já deve ter utilizado nas praias do litoral gaúcho para ir até a praia ou passear pelo balneário. Lembrou?

Você sabe onde surgiu este tipo de transporte aqui no litoral?

No livro ‘A saga das praias gaúchas’, Leda Saraiva Soares, relata que Tramandaí utilizava a primeira versão desse transporte na década de 20, mais precisamente na temporada 1927/28. Tramandaí tinha uma peculiaridade que a distingue das demais, ela nasceu às margens do Rio e não à beira Mar. Essa distância chegava a um quilômetro o que fazia do deslocamento, do centro até a praia, muito demorado. Primeiramente para fazer este deslocamento eram utilizadas carretas, depois carroças e cavalos, só em 1927 é que foi implantado o serviço de bondes.

A empresa Carris de Tramandaí é que fazia este serviço utilizando um carro Ford Bigode, com rodas adaptadas aos trilhos, que puxava os bondes que serviam de transporte aos veranistas até a praia. Os hotéis eram os responsáveis pela divulgação e também ofereciam como serviço aos seus hóspedes. Os trilhos do bonde partiam da Avenida Capitão Antônio Mariante (hoje Emancipação) e passava em frente dos principais hotéis da cidade Hotel Recreio Gaúcho, Hotel Beira-Mar, Hotel Corrêa, Hotel Sperb, Hotel Strasburger, Hotel Hofmeister, Hotel Saúde e Pensão Amaral. Inicialmente, este tipo de transporte foi chamado de bonde, mais tarde passaram a chamar de trenzinho. A partir de 1934, o serviço foi integrado aos hotéis e o preço da passagem de ida e volta à praia já estava incluído na diária. Foi assim durante anos até serem substituídos por ônibus ou mesmo pelos carros dos próprios turistas e veranistas. Somente em 1960 é que surgiu a empresa de Transportes Coletivo Dindinho e apresentou um novo transporte para reviver os nostálgicos bondinhos do passado. A empresa iniciou este serviço com quatro veículos Jeep Land Rover que tracionavam dois vagões cada um. Cada vagão tinha capacidade para 32 pessoas.

A empresa pertencia ao senhor Nery Farias e funcionou assim durante alguns anos e até estendeu este serviço aos municípios próximos, como Capão da Canoa. Em 1976 foi vendida e o novo proprietário continuou prestando este serviço até hoje.

Quanto ao nome “Dindinho”, ele surgiu quando o Sr. Nery estava preparando sua frota para um desfile e faltava escolher o nome do seu produto criativo. Seu sobrinho, muito curioso e que o chamava de Dindinho (diminutivo de Dindo, padrinho), não parava de perguntar sobre tudo que o tio fazia. Dindinho o que é isto? Dindinho o que é aquilo? No meio de tanta pergunta chega um amigo de Nery e ele presenciando a curiosidade do menino sugere que o nome da frota fosse “Dindinho”, porque soava de uma forma carinhosa. Nery pensou e lembrou de uma pessoa querida e que estimava muito e que era Dindinho de muita gente, inclusive de sua esposa: João Clemente. Este era filho de Tramandaí, mestre da banda, subprefeito, líder político e pessoa estimada por muitos. Então, por sugestão do amigo e em homenagem a esta figura, sua frota ganhou o nome de Dindinho.

E como se vê, todas as outras frotas que surgiram nas praias do litoral gaúcho também herdaram este nome: Dindinho!

 

Fonte: Soares, Leda Saraiva. A saga das praias gaúchas: de Quintão a Torres. Martins Livreiro, 2000.




Veja Também





Links Patrocinados