I SEMINÁRIO DE PESQUISAS DO PARQUE ITAPEVA: Divulgando os estudos realizados na Unidade de Conservação

Estudantes, professores, pesquisadores e cidadãos interessados se fizeram presente no evento (foto), que ocorreu na quarta-feira (08)

10 de novembro de 2017

Um evento que objetivou dar o retorno das pesquisas realizadas no Parque Estadual Itapeva (PEVA) à comunidade, bem como informar e motivar a comunidade acadêmica quanto às possibilidades de pesquisa e geração de conhecimento que o PEVA pode trazer. Este foi o mote do encontro que ocorreu na última quarta-feira (dia 08 de novembro), quando foi realizado I Seminário de Pesquisas do Parque Estadual de Itapeva: “Divulgando o Conhecimento” no Parque da Guarita. Dezenas de estudantes, professores, pesquisadores e cidadãos interessados se fizeram presente. Durante o seminário, alunos do curso de Biologia da UFRGS também apresentaram  o  Documentário “Caminhos de Itapeva” – sendo que o filme mostra a natureza e divulga os desafios enfrentados no parque ambiental de Torres (iniciativa que contou com o apoio da equipe do PEVA, da Fundação Zoobotânica do RS, professores da UFRGS e comunidade de Torres).

O jornal A FOLHA também marcou presença no seminário, tendo a oportunidade de ouvir duas das palestras realizadas.  Numa delas, a pesquisadora Nathalia Rocha Matias – doutoranda em biologia pela UFRGS –  apresentou sua pesquisa, “Status de conservação e ecologia das populações de Liolaemus occipitalis. Popularmente chamada de ‘lagartixa-da-praia’, trata-se de um pequeno lagarto endêmico das dunas costeiras da região sul do Brasil, espécie em situação de vulnerabilidade (mas que ainda não corre risco de extinção). Ele vive entre as dunas e a vegetação rasteira dos arredores.

Em seu estudo, Nathalia coletou e catalogou vários espécimes da Liolaemus occipitalis em diferentes pontos, fazendo principalmente um paralelo com os espécimes encontrados nas dunas frontais da Praia Real – balneário urbanizado ao sul de Torres – e dentro do Parque Itapeva.  A pesquisa concluiu que, apesar da quantidade de animais coletados ser praticamente a mesma em ambos os ambientes,  nas dunas do PEVA haviam espécimes maiores e maior quantidade de machos, enquanto os indivíduos da Praia Real eram menores e, em sua maioria, fêmeas ou jovens (o que provavelmente tem relação com a territorialidade dos machos da lagartixa-da-praia). O fato de quase não haver recaptura de indivíduos na Praia Real também evidencia uma expectativa de vida (3 anos em média para a espécie) provavelmente menor do que a dos indivíduos que habitam  o Parque Itapeva (propensos a chegar a senilidade). Outra conclusão é de que, apesar de adaptáveis (nem a presença de lixo chega a influenciar diretamente sua existência), as lagartixas de praia tem na modificação constante de seu ambiente natural o maior desafio pela manutenção de suas vidas (a forte erosão de dunas na Praia Real fez com que os animais abandonassem seu habitat, o que ameaça grandemente sua expectativa de sobrevivência).

 

 

O Sangradouro de Bella Torres e os impactos dos veículos na faixa de praia

 

Alexandre Krob, do Instituto Curicaca, apresentou o estudo “Conservação das espécies do PAN pela gestão da praia em frente ao Parque Estadual de Itapeva e na área de influência da REVIS Ilha dos Lobos”.  A pesquisa teve o objetivo de monitorar penípedes (lobos e leões marinhos) e aves na zona de praia do PEVA e região, bem como a presença e intensidade das ameaças antrópicas.  Conforme os dados da pesquisa, a partir de amostras realizadas mensalmente, viu-se que no verão há aumento do uso da praia pelas aves (8527 – 46% do total), que migram para o Parque Itapeva e região. “Trata-se de uma ‘coincidência turística’, pois é na mesma época que aumenta significativamente o número de seres-humanos na área da beira de praia, e esta confluência que precisa ser gerenciada”.

Outro dado curioso é que o trecho analisado em que mais aparecem registros de aves é o sangradouro da Bella Torres (balneário do Passo de Torres, SC), local próximo de arrozais onde há significativamente mais espécies e abundancia de animais do que no próprio PEVA (talvez pela proximidade com o Rio Mampituba e Ilha dos Lobos). Por isso o pesquisador da Curicaca sugeriu que se colocasse em debate a possibilidade de criar uma unidade de conservação (ou santuário de aves) na localidade em questão, no Passo de Torres

Os dados de Alexandre demonstram claramente os danos que o trânsito livre de veículos podem causar na faixa de praia – como atropelamento de fauna, afugentamento de bandos de aves, danos à ninhos. Conforme a pesquisa, o fechamento da praia de Itapeva (ocorrido em fevereiro de 2016 e intensificado neste ano) representou uma diminuição de 17% do impacto na morte de animais atropelados por veículos. Assim, Alexandre recomendou que se garanta o fechamento da Praia Itapeva à Circulação de veículos, bem como maior controle da circulação de cães nas áreas de nidificação(uma vez que os cachorros são responsáveis por destruir ovos e matar aves).

Concluindo, o estudo do Instituto Curicaca mostrou também a importância da manutenção da praia em frente ao Parque Itapeva junto a unidade de conservação, uma vez que as espécies que utilizam a faixa de praia, inclusive espécies migratórias, também fazem uso da área adjacente (dunas, baixada úmida, sangradouros).

 

Questão das dunas e outros assuntos em pauta

 

A pesquisadora Beatriz Barros Aydos, também do Instituto Curicaca, foi quem iniciou o evento apresentando a pesquisa “Contribuição do Parque Estadual de Itapeva para a conservação das dunas costeiras do litoral norte do RS”. A pesquisa destaca o quanto ás dunas do PEVA estão bem conservadas, mas deixa claro o problema do descarte de resíduos nas dunas e da existências de cães, espécies exóticas que ameaçam a fauna nativa do PEVA.

A questão das dunas continuou em evidência com a pesquisadora Gabriela Camboim Rockett, que apresentou sua tese de doutorado “Campo de Dunas de Itapeva (Torres-RS): Geomorfologia, Evolução e Gestão Costeira”. A pesquisa demonstrou como funciona a dinâmica do campo de dunas de Itapeva, local com características singulares pela dinâmica dos ventos específicos da região – ventos que, ultimamente, vêm diminuindo e, por isso, intensificando modificações na área. Comparando fotos atuais e de 50 anos atrás, evidenciam-se as alterações no cenário do Parque Itapeva. Gabriela mostrou ainda como a pressão urbana e as mudanças nas chuvas, ao longo dos anos, também vem influenciando nesse ambiente tão especial e ameaçado.

Encerrando a tarde, o pesquisador Gabriel Schettini Armiliato, apresentou a pesquisa “Variação da estrutura populacional de Acanthochelys spixii (Chelidae, Testudines) no Parque Estadual de Itapeva, RS: estabilidade ou declínio?“. A pesquisa demonstrou o quanto a população de cágado preto (espécie de tartaruga) vem se mantendo ao longo dos anos e aumentando gradativamente, graças a ao fato de estarem protegidos pelo PEVA. O estudo de longevidade de uma população desta espécie, é inédito na América Latina, servindo de base para outros no continente.

Além da apresentação das pesquisas recentes, também foram exibidos banners de pesquisas mais antigas, a fim de divulgar o que já foi realizado até mesmo antes da criação da unidade de conservação (UC). Foram expostos os banners “Sapos, Rãs e Pererecas do PEVA”, do pesquisador Patrick Colombo, “Microcorredores Ecológicos”, pelo Instituto Curicaca e o trabalho sobre os Butiazais (também do Instituto Curicaca). O Projeto Praia Limpa, que realiza trabalho de educação ambiental na cidade, também se fez presente no profícuo seminário – que trouxe conhecimento e novidades ambientais para Torres.

 

*Com Danúbia do Nascimento (PEVA)


Publicado em: Meio Ambiente






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